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domingo, 24 de abril de 2011

Reflexão a cerca da relação professor-aluno


Salve! Salve!

A situação precária de trabalho em que nós professores nos encontramos a muito tempo me incomoda. Por isso, hoje peço permissão para publicar um texto que, no auge de minha ingenuidade e com pouca experiência, escrevi em 2006. Tal texto foi escrito na época para discutir com os meus alunos, pois a situação estava insustentável na escola. Assim, vamos ao texto:

Era uma vez... uma aula
    Em uma cidade de Goiás ocorre um fato que muito me impressiona, é a atual relação entre professor e aluno. Vejam, por exemplo, com é um dia de trabalho de um professor.
    O professor chega bem cedo, às 7:00 da manhã para começar o seu dia de trabalho, horário que "teoricamente" se inicia a primeira aula em seu colégio. Chegando à sala de aula ele se depara com "meia dúzia" de alunos, aqueles que sempre são pontuais. Animado, ele começa a trabalhar o conteúdo com estes alunos, pois sabe que será no decorrer da aula que o restante deles, a grande maioria, irá chegar. Sendo que, dos alunos que chegam atrasados, cada um atrapalha de alguma forma, entram sem pedir licença, chegam conversando, gritando, arrastando mesas e cadeiras, enfim, dispersando a atenção dos colegas. O tempo vai passando e em meio a toda esta turbulência o professor termina a primeira aula sem tirar muito proveito dela. Sai da sala um pouco desanimado com a situação, mas o pior ainda estará por vir, por exemplo, quando o mesmo aproxima-se da sala onde ministrará a segunda aula do dia e ouve:
    - "Ahhh não, o professor veio hoje!" (diz um aluno).
    - "Professor, por que o senhor veio hoje?" (diz outro).
    - "Ah não professor, por que o senhor não ficou em casa!" (e mais outro).
    Com mais essa injeção de ânimo ele respira fundo e depois de algum tempo, com muita dificuldade, consegue colocar todos os alunos que estão no corredor pra dentro de sala. Após ouvir muitas lamentações dos alunos, ele finalmente começa sua segunda aula. Passa algumas atividades no quadro, responde às mesmas perguntas de sempre (tais como: "é pra copiar?", "vai valer ponto?", "é pra entregar?"), explica o que deverá ser feito e então aguarda os alunos resolverem as questões. Nesse momento, o professor pode observar melhor o tamanho do desinteresse da maioria dos alunos, pois muitos conversam a aula toda e não fazem nada, outros brincam a aula toda e não fazem nada, alguns fazem trabalhos de outras matérias, outros brincam com celular e outros ainda arrumam qualquer motivo para poder sair da sala e também, não fazer nada. Somente quando o professor fala que irá dar visto na atividade é que a maioria, às pressas, começa a copiar daqueles que fizeram. A aula termina e o professor caminha então rumo à sua terceira aula. Na porta da sala ouve os mesmos comentários, alguns perguntam:
    -"Professor, o senhor vai dar alguma coisa de importante hoje?"
    - É... por que se não, iremos embora!
    Cada vez mais cabisbaixo o professor então entra para a terceira aula, como um boi que está na fila de um frigorífico esperando sua sentença de morte. Não faz mal, pensa ele, afinal existem alunos que ainda fazem compensar tudo isso. Assim, passa o conteúdo àqueles que realmente ainda se interessam pela aula e no final, ouve o soar de duas sirenes dispensando os alunos antes do recreio, pois após terá o inter-classe. Diante de tudo isso, o cansado professor se pergunta, "onde foi que eu errei?".

Fernando A. de Moraes


Hoje, mais experiente e menos ingênuo, sei que nem sempre o erro está em nós e que, a Educação é um ato complexo que depende do interesse das pessoas que a ela se vinculam direta ou indiretamente. Sei que há problemas que estão relacionados com a profissionalização e com o profissionalismo e, infelizmente, também sei que tal situação relatada no texto ainda é muito comum nas escolas brasileiras. Diante disso, levanto o seguinte questionamento: como ensinar aquele que não quer aprender?
    

5 comentários:

TAIANE CRISTINA disse...

falou tudo!!! as vezes me pergunto a mesma coisa...e olha que trabalho com crianças....e algumas demonstram-se da mesma forma..sem interesse algum...SENHOS! COMPADEÇA DE NÓS!E AINDA DIZEM QUE PROFESSOR É A PROFISSÃO DO FUTURO....

Allan Valle disse...

Grande amigo Fernando,
você descreveu o cotidiano da educação básica. Venho tristemente dizer aos que frequentam seu blog que comportamentos muitos semelhantes aos que você descreveu já são replicados no ensino superior...
Todo docente, nao interessa em que série ou periodo trabalhe, trava uma luta constante consigo mesmo para nao deixar-se abater pela apatia e descaso dos nossos alunos. Dificilmente temos respaldo dos pais, da coordenação da instituição, mas quando acontece alguma coisa errada, a culpa e a incompetência são exclusivamente nossas.
Quanto a sua pergunta, nao sei nem esboçar uma resposta...

Simone Sendin disse...

Bom, depois de um tempo podemos pensa várias coisas...
Já cheguei a pensar que não deveria estar nessa profissão...já entendi que não viveria em outra!
Já sonhei em trabalhar em escolas onde os professores fossem de verdades mediadores, guias, mentores, etc...já trabalhei me sentido apenas capataz!
Já achei que a culpa pelo fracasso na educação era minha...já entendi a complexidade do ato educativo!
Já odiei os burocratas, os secretários de educação, os superiores que nunca haviam entrado em uma sala de aula e que, do cargo que ocupavam, apenas incomodavam quem estava dentro dela - professores e alunos...já entendi o papel deles (embora ainda me incomodem)rsrs
Bom, educação (ou o mundo??) hoje é isso - ilhas de certezas e mares de incertezas!!
Pra complexidade da sua pergunta...a resposta não nesse "papel" pois é "do tamanho da alma" (não lembro o poeta).
Bjs
Si
PS. mas a despeito de todos os problemas ainda acho que é a única profissão do futuro!!!

Professor Fernando disse...

Nobres colegas, primeiramente obrigado pelas considerações.
Vejo a Educação como um instrumento, que em nossa época, está sendo utilizado apenas em favor das elites capitalistas no sentido de manutenção da mão-de-obra, bem como do status quo de alienação que o sistema necessita
Porém, não sou fatalista e, como instrumento, vejo que a Educação deve ser entendida por nós no sentido de Emancipação social.

Mas, pensando pragmaticamente, os rumos que a escola está tomando me assustam!

Professora Adriana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.