Olá meus companheiros de luta, como vai a batalha diária?
Bem, dias atrás a
imprensa goiana noticiou o lançamento do Pacto pela Educação (pacto este que
será tema exclusivo de outro post), programa do governo Marconi Perillo, sob o
comando do idealizador e atual secretário da Educação do Estado, senhor Thiago
Peixoto.
Tal secretário vem sendo
criticado pelas iniciativas tomadas em sua pasta. E foram justamente estas
iniciativas, que me levaram a tentar conhecer um pouco mais as ideias do mesmo,
por meio da leitura crítica de seu livro, “Educação:
o desafio de mudar – reflexões sobre como transformar a Educação que temos na
Educação que precisamos”, que foi publicado “despretensiosamente”em 2010 e
trata-se de uma compilação de artigos publicados, ao longo dos últimos anos, no
jornal O Popular – maior veículo de comunicação da mídia impressa do Estado de
Goiás.
Portanto, meus caros
amigos, peço-lhes desculpas a vocês pela extensão do texto, mas ao mesmo tempo,
peço para que dispensem um pouco de seu tempo em sua leitura, pois tento trazer
aqui algumas críticas fundamentadas à luz de elementos teóricos da Educação. O
texto trará algumas citações do livro do atual secretário.
Desde já agradeço a
atenção. Agora vamos aos fatos!
Nota-se, através da
leitura do livro, que o senhor Thiago Peixoto é um excelente economista e
político, uma vez que o mesmo defende de maneira brilhante um governo
neoliberalista de cunho exageradamente mercadológico e, por isso, adepto da
Teoria do Capital Humano.
Em relação ao conhecimento epistemológico a respeito
da Educação, nosso secretário deixa a desejar. Em alguns momentos de seus
textos ele mesmo se contradiz. Por exemplo, neste caso abaixo em que, em um
texto ele diz uma coisa e em outro ele diz outra:
“...
como sabemos, os resultados a curto prazo de uma política educacional podem
não ser tão perceptíveis.”
“Existe
um discurso na educação que serve como esconderijo para os resultados não
atingidos. Todos nós já ouvimos que educação é processo e que os resultados dos
investimentos neste setor só serão sentidos em longo prazo. Esta abordagem
tem que ser mudada.
Como assim, senhor
secretário? Os resultados são ou não à longo prazo?
Em muitos textos, fica
clara a intenção de trabalhar a Educação através de resultados e incentivos, o
que acaba resultando na atual Meritocracia utilizada por vários governos
Estaduais, inclusive em Goiás, através do Pacto. Para defender e justificar um
pouco a tal Meritocracia, o secretário utiliza-se de outros Estados como
referência, como segue abaixo:
“Tanto
o município, quanto o Estado de São Paulo lançaram recentemente novas políticas
educacionais, destacando-se a busca da excelência pela meritocracia, através de
incentivos aos professores que conseguirem gerar resultados positivos em sala
de aula.”
Ele só se esqueceu de
antes de publicar o livro, dar uma “conferidinha” direito, sobre como está
caminhando essa tal Meritocracia atualmente no Estado de São Paulo.
É muito engraçado como o
discurso de um político muda, não é. Em 15 de maio de 2009, o atual secretário
disse em O Popular:
“O
cenário atual não é tão animador: o governo estadual não cumpre a lei federal
que determina o pagamento do Piso Salarial Nacional do professores”
Em outros artigos do livro podemos ler:
[...]
não há educação de qualidade sem professor valorizado e bem remunerado. Os gestores públicos sabem disso.
As conclusões acima são óbvias demais para que digam o contrário. Muitos deles,
porém, se sentem desimpedidos para utilizar as crises financeiras para
descumprir a lei. Mera desculpa. A própria Lei 11.738 assegura recursos
necessários para a integralização do piso aos Estados que não tiverem condições
de arcar com o aumento salarial.
Os
melhores sistemas educacionais são aqueles que desenvolveram fortes mecanismos
para fazer com que as pessoas preparadas estejam na sala de aula e apresentam
como um dos atrativos um bom salário para o professor no início de carreira.
Sabe-se que a principal motivação para alguém ser professor é a vontade de
preparar as futuras gerações, mas não se pode abrir mão de uma remuneração que
valorize estas pessoas. O “status” que é dado ao professor também é muito
importante, esta valorização profissional por parte da sociedade é fundamental.
No Brasil, temos que acabar com imagem do professor coitadinho, reconhecendo
nos nossos professores seu papel fundamental para o nosso desenvolvimento.
E hoje senhor
secretário, como está o cenário? Como está esta questão do piso mesmo? Como
anda a valorização dos professores?
Concordo com muito do que
está posto, mas infelizmente não é condizente com a realidade atual, pois não
estamos vendo nada disso acontecer.
Acho que a resposta dele
para estas perguntas pode ser encontrada também no livro, como podemos
verificar logo a seguir:
“No
Brasil, a folha de pagamento da Educação absorve aproximadamente 80 % do
orçamento das respectivas secretarias municipais e estaduais. A solução mais
viável para um aumento financeiro significativo na carreira dos professores
seria estabelecer salários diferenciados por desempenho. O bom professor,
aquele que gera resultados positivos, teria mais incentivos. É a política da
meritocracia, que valoriza o bom profissional.”
E o plano de carreira? E
a profissão de professor, como fica?
Mas, uma coisa que mais
me intriga neste trecho é a questão “o bom professor”. Quais são os critérios
utilizados para caracterizarmos o bom e o mau professor?
Outro trecho triste é “É
a política da meritocracia, que valoriza o bom profissional.” Tá bom, mas então
vamos fazer assim, vamos ter também o bom médico, o bom policial, o bom político.
Faço um questionamento aqui: se o secretário não conseguir melhorar a Educação
em Goiás no final de sua gestão, poderá ele ser considerado como um mau
político?
Sabemos que existem profissionais
que não desempenham muito bem suas funções. Mas também sabemos que, às vezes,
isso acontece por vários fatores como, por exemplo, terem uma formação
inadequada, feita “a toque de caixa” nas licenciaturas parceladas, para que os
governos cumprissem as exigências da LDB.
Em outro artigo podemos encontrar mais uma tentativa
da construção do conceito de bom professor por nosso excelentíssimo:
“Os
bons professores – aqueles cujos alunos apresentavam resultados de
aprendizagens progressivos – seriam alçados a um nível superior ao dos maus
profissionais.”
Aqui eu me recuso a
comentar, deixo o espaço aberto a vocês______________________.
Já que estamos falando de
valorização profissional observem outro exemplo de contradição:
“Mas,
para que mudanças significativas aconteçam, precisamos de professores bem
qualificados e motivados. É inconcebível que a carreira de um educador seja
considerada de segunda linha. Assim como são inconcebíveis os valores dos
salários de um professor nos seus primeiros passos de caminhada profissional.
Só quando for dado o devido reconhecimento – em todos os níveis – aos
professores, é que conseguiremos atrair os melhores profissionais para a sala
de aula, e acabar, por exemplo, com o déficit de mais de 280 mil professores de
Matemática e Ciências.
Então deixa eu tentar
entender, precisa valorizar, pagar o piso, os Governos se apegam em discursos
que não possuem dinheiro e inventam a história do mérito...então tá.
Em muitos momentos do livro
de nosso secretário, temos a oportunidade de encontrarmos claramente a visão
mercadológica que o mesmo possui em relação aos objetivos da Educação. Antes de
citá-lo, quero perguntar onde ficam os objetivos primordiais que nós sabemos
que devemos nos preocupar, tais como: formar um cidadão crítico, consciente, responsável
e sabedor de seus direitos e deveres sociais? E a formação social? E a
preocupação contra-hegemônica? E os questionamentos capitalistas?
Nosso secretário só
preocupa com a formação para o trabalho, pois ele é adepto da Teoria do Capital
Humano, como podemos verificar:
Não podemos esquecer-nos da nossa maior reserva econômica: o capital
humano. Só investindo nesse contingente é que poderemos corrigir a flagrante
desigualdade social em que vivemos. E o mecanismo mais eficiente para obter o
avanço social necessário é a educação, caminho cada vez mais utilizado por
países que buscam o crescimento sustentável.
Ao
ampliar o nível educacional, um Estado amplia também sua capacidade tecnológica
e seu potencial de produtividade. O acesso à educação tende a oferecer mais
oportunidades à população, reduzindo, com isso, a desigualdade social.
Recorro-me aqui a
Gaudêncio Frigotto, que em seu livro “A produtividade da escola improdutiva”
analisa o pensamento de T. Shultz, um dos pioneiros da divulgação da teoria do
Capital Humano, e diz que:
A
Educação, então, é o principal capital humano enquanto é concebida como produtora
de capacidade de trabalho, potenciadora do fator trabalho. Neste sentido é um
investimento como qualquer outro.
[...]
A teoria mostra-se fecunda enquanto uma ideologia, tanto no sentido de
falseamento da realidade quanto no de organização de uma consciência alienada.
A teoria do capital
humano mascara a realidade, dando a falsa ideia de que as desigualdades sociais
serão solucionadas quando a “força de trabalho” estiver mais capacitada. Será
mesmo? E os demais fatores? Não podemos pensar que a Educação salvará o mundo.
Acreditamos que a Educação é um elemento essencial para formar uma sociedade
equilibrada, porém não podemos relacionar este equilíbrio apenas à uma suposta ascensão
econômica e ao desenvolvimento econômico de um Estado ou País.
Não podemos encarar a Educação como uma imitação de
modelos ou uma reprodução de técnicas, o que nos remete ao tecnicismo. Um artigo
do livro nos leva a pensar nisto:
A
educação deixou de ter diretrizes basicamente ideológicas para tomar um caminho
extremamente moderno, pautado por avaliações e análise de dados. Temos, agora,
condições de analisar e comparar aquilo que não funciona em cada sistema
educacional, seja ele de um outro país, de um outro Estado ou de cidades
diferentes. Temos, agora, a capacidade de reproduzir uma boa prática
educacional de uma escola no interior do país ou de uma outra nação do
outro lado do mundo, tudo isso para mudar e aperfeiçoar a nossa Educação.
Termino tal análise afirmando que, muito me preocupa
que a economia seja a mola propulsora das iniciativas apresentadas no livro. Trata-se
de um livro bem escrito, por uma pessoa muito inteligente, porém com um viés
explicitamente econômico. Ainda há muito que se discutir a respeito, mas irei deixar
para o Pacto da Educação, até mesmo para não deixar o texto ainda maior.
Uso aqui as palavras que, talvez, mais apreciei no
livro:
Acontecem,
a toda hora, manifestações contra o mensalão, contra a mais alta taxa de juros
do mundo, contra nossa insustentável carga tributária, contra o estado precário
das nossas estradas, contra o nosso pífio crescimento econômico. Será que não
está na hora dos brasileiros se manifestarem contra um dos piores ensinos do
mundo? Indignem-se! Protestem! Ajam! Já perdemos muito tempo! A hora da
educação tem que ser agora, o depois pode ser nunca.
Obrigado àqueles que chegaram até o final do post.
Salve!
Salve!